Dali por diante, deixava meus dentes caírem sozinhos. Meu pai, minha mãe, meu irmão, professoras, o padre, o prefeito da cidade vinham tentar me convencer a arrancar os dentes moles, mas eu permanecia irredutível. Alguém havia me dito que os dentes deveriam cair sozinhos. Por que passar por aquela dor se podiam cair sem sofrimento?
O canino esquerdo caiu quando mordi uma torrada, e lá ficou ele cravado. Outro caiu (sozinho, claro) durante a noite. Quando abri a boca para escovar os dentes, vi que estava banguela. Nunca o achei. Talvez a fada dos dentes tenha tirado enquanto eu babava de boca aberta.
O melhor desse método, é que nunca doía. Eles iam embora naturalmente, sem que eu sentisse nada, sem que houvesse esforço aplicado na tarefa.
De alguma maneira trato os relacionamentos como tratava os dentes. Não arranco às pressas, espero que afrouxem e desatem naturalmente, deixo seguir o curso natural. Assim dói menos.
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