quarta-feira, 7 de julho de 2010

A trepada que eu nunca dei

No final do décimo quinto copo de cerveja, caiu a realidade. Não, esse cara nunca vai me dar mole. E não vai dar porque ele é o cara. Ele é inteligente, é sensível, é talentoso, fala manso, mas tem a voz grossa e um sotaque irresistível. E ele é lindo. E tímido.

Sim, havia uma esperança no começo da noite. Um olhar flagrado, uma vontade dele de se aproximar. Mas não se aproximou. Será que não dei abertura? Não, certeza que dei. Puxei conversas, falamos de filmes, de futebol, de bebedeiras. Fiz piadas, ri das dele com sinceridade. Fiz as unhas, lavei o cabelo com mais carinho que o normal, usei aquele vestido decotado e romântico. Mas a realidade bateu naquele momento em que dei o último gole no décimo quinto copo de cerveja e o coloquei sobre a mesa. Suspiro.

Outro olhar flagrado. Mais quinze copos de cerveja e me enrosco nesse cara como um gato carente se enrosca no dono. Não. Não - sua ridícula - ele não quer. O amigo dele já até está de xavecando e o amigo dele não faria isso se soubesse que ele poderia estar interessado. É isso. Não quer.

O trigésimo copo de cerveja vem. E também a aceitação, o conformismo. Vou embora. Vou embora, porra. Caralho, merda.

E então, ele faz o convite. E o faz genialmente. Que de outra forma esse ser genial o faria que não genialmente? Convite discreto e certeiro. Abafado em meio às conversas da mesa. Mas eu ouvi. Ouvi e não acreditei. Pensei que talvez minha cerveja de todos os sábados havia começado a ter poderes alucinógenos. Fiquei muda, calada, esperando algum sinal, outro olhar, outra palavra. Olhei para os lados para ver se as palavras dele eram de fato para mim. E foi aí que ele perguntou de novo, para não deixar dúvidas. E foi aí que começou a promessa de uma noite feliz. Deu um sorriso, e saímos pela rua sob o olhar de desaprovação do amigo.

Aí então descobri que ele tinha as mãos macias, suaves; que era gostoso de abraçar, de cheirar, de alisar, de beijar. Que tinha o cabelo gostoso de passar a mão, que tinha pegada, timing e tudo mais. Eu estava ali, na cama, com o cara. O cara. Não conseguia parar de pensar que ele era o cara. E comecei a pensar que toda a cerveja tomada na espera daquela frase genial havia sido cerveja demais. E que ele era demais e que talvez eu fosse de menos. Não sei exatamente como, mas brochei, minha gente. Brochei. Mas ele era o cara e ainda dormiu aí, comigo, abraçado, com direito a cafuné na cabeça.

E no dia seguinte ele se foi embora lá para longe, onde todos falam com aquele sotaque que só é bonito na boca dele. E nunca mais o vi. Me restou a vontade, a fantasia com o não concretizado, o que faz dele, hoje, minha conquista inconquistável.

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