Eram cinco meninos para cinco meninas. Ou seis? O que importa é que estava tudo lá: a luz que pisca (tem um nome essa danada, mas quem cresceu na década de 90 há de lembrar: tinha a azul, a roxa, a vermelha. E elas rodavam), as balinhas de hortelã espalhadas em forma de coração, uma coletânea de música lenta de arrasar. Meu deus, como a gente estava nervosa. Eu já tinha escolhido o meu: o rapaz alto, que já tinha voz grossa com seus onze anos, que parecia saber tudo de tudo.
Mas nosso sistema de escolher o par era complexo e democrático: todo mundo tinha direito a voto. E entre primeira e segunda opção, fiquei com minha segunda. Ok, ainda está valendo.
Fomos para a pista de dança: um pedaço da sala da casa da amiga, enquanto os pais tentavam dormir no quarto lá dentro. A música lenta faz sua abertura. As mãos suam tanto que aprendo a dar uma limpadinha no ombro do parceiro. Parceiro este que estava há uns seis metros de distância, segurando nervosamente minha cintura.
Eis que começa: “what´s up?”, minha música favorita número um desse ano. Nossa, é agora. Vem ele, o beijo. Meu deus, vou saber como? O que faço com a língua, a boca, os dentes, os lábios? E se ele não gostar? E se eu ficar com fama para todo o sempre de ter o pior beijo de toda a sexta série do colégio?
Mas aí a luz se apaga um pouco mais. O abraço se aperta. Ele abre a boca. Eu abro também. Vem uma língua enorme me incomodar. Fico lá, esperando o tormento acabar. Estou beijando? É isso? Nossa, achei que era coisa melhor. E essa baba toda, faz parte?
Pronto, acabou. E foi beijo mesmo, balaço, de língua, salada mista. Fico feliz de novo. Ufa, passou. Com licença que vou ali. Oi? A música nem acabou. Mas preciso, com licença, tchau.
A legião de cinco (ou seis?) amigas vem atrás. Vamos para a garagem, para eu contar tudo do grande momento. Antes de falar, é tanta emoção e enjôo que eu... vomito!
Vomitei, minha gente, ainda bem que disfarçado atrás do botijão de gás. Nem liguei. Voltei para a sala altiva, cabeça erguida, toda mulher.
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