quinta-feira, 8 de julho de 2010

uma carta

Olá meu pequeno gigante,

fiquei alguns meses sem notícias suas. sempre que ia pegar a conta de luz com o carteiro, procurava algum envelope pálido com letras cadentes. não te perdoaria, mas hoje estou radiante como se tivessem colocada uma estrela pontuda desenhada por criança bem no meio da minha testa. descobri o que é arte.

outro dia, acordei de madrugada e a luz da geladeira me deprimiu. cheguei a procurar um revólver, mas não tinha nenhum na casa.

Andei de mãos dadas com meu senhor. ele é tão calmo... o único problema é que não me faz sorrir. andamos pela costa e ele me apresentou como sua "pequena raiz de flor" (o que em francês soa muito mais romântico).

minhas cobertas vermelhas se rebelaram contra mim. me deram uma febre incrível e um grande calor no corpo. ela esteve aqui de novo. com a mesma camisola branca e os pés descalços. o cabelo desta vez estava solto, sem aqueles ridículos prendedores dourados. desta vez fui mais educada e ofereci café. ela não quis. não disse nada, só ficou me olhando com aquela cara de garça infeliz.

preciso te contar de um sonho estranho. tive uma colega no jardim de infância que era muito gorda e estava comendo o tempo inteiro. ela me fazia feliz, pois eu sabia que sempre estaria melhor do que ela. desde nova essa crueldade me persegue.

nos meses passados da adolescência, enquanto chorava em algum banheiro escuro, bêbada e de quatro, eu soluçava: "onde está você, ana?" essa menina misteriosa acompanhou todas as minhas crises. enfim, sonhei que ana dançava com alain delon no meio de um rio. não sei se ela morreu ou se deixou de ser patinho feio.

de qualquer jeito não posso mais escrever. pouco a pouco a pele rasga.

até mais, meu caro.

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