quarta-feira, 30 de junho de 2010

E não é que ainda mexe com a gente?


Merda. Tô quieta no meu canto.

Já faz um ano que acabou, depois de tantos turbilhões – como a gente, o mundo inteiro bem sabe, porque no fundo, somos todos iguais – mas acabou. Mesmo!

Ele tá em outra, tem outra namorada, gata, inteligente, magra, alta, mo­rena. Tá lá, vivendo a vidinha dele, e eu a minha.

Sabe? Tô trabalhando como nunca na vida, um tanto que eu nunca quis, mas com o que eu sempre quis. Nunca estive tão bem sucedida profissionalmente, ga­nhando bem, sem patrão, viajando pra um lugar interessante pelo menos uma vez por mês, perambulando de um lado pro outro, fazendo contatos, participando de congresso, pensando até em projeto de doutorado, ganhando bolsa de estudos no exterior a torto e a direito (na verdade, sempre pro mesmo lugar, mas ganhando bolsa de estudos!). Ando colocando meu corpo em dia, minha saúde em dia, correndo cedinho, com direito a lista de música pra lá de moderna, me alimentando mais que educadamente, emagrecendo, de cabelinho curto e fashion, super atualizada: converso sobre o pré-sal, sobre alteri­dade, sobre meio ambiente e até sobre relacionamento, um arraso.

Mas não é que a merda do bofe ainda mexe com a gente?

Um pouco mais de consideração, por favor. “É proibido falar contigo?” Não, mas devia ser. Até o dia em que eu liberasse. Sim, eu. Afinal, quem é que manda nessa budega? Não é quem toma o pé na bunda não? O que eu ganho com essa história?

Quem foi que te deu o direito de me amar ou de falar que me ama se quem te come não sou eu? Quem te disse que você pode, do fundo da sua mediocridade, dizer que é apaixonado por mim, mas que precisa viver um relacionamento com a sua vizinha? É porque eu estou a 500 km de distância de você. E a vizinha... Eu nunca es­colhi o caminho mais fácil. E é por isso que você não tem o direito de mexer comigo. Porque 500 km, pra mim, é fichinha. Tiro de letra.

Eu não sou mole não. Sou aquela que você, do ladinho da sua mulher, vai comer com os olhos. Ou com o pau. E vai viver a história mais intensa, mais monta­nha russa. Vai sofrer até o fundo do poço, mas vai ser mais feliz que todo mundo, quando tiver de ser. Mas ao mesmo tempo, não vai conseguir trabalhar, nem estudar, acabou a sua paz, a sua segurança. E olha que nem motivo te dou. Porque sou a mulher mais apaixonada que você poderia conhecer. Aquela que você achava que não existia. Ou aquela sobre quem você nunca tinha parado pra pensar, porque ela não fazia nem parte do seu vocabulário. Mas pra me aguentar, é preciso muito. Eu não sou pra casar. Uma relação como a nossa nunca podia se submeter a uma instituição burocrática des­sas. O problema é que ainda não inventaram o que fazer com a gente. Sabe o que é pior? Até a sua mulher pode ser eu. Mas não com você. Com você, com essa coisica estável e mansa de vocês dois, vocês vão longe. Ela também preferiu a paz. Cada um vai chegar ao topo do seu projeto individual. Vai estar tudo em ordem. Cada coisa no seu lugar. Não é equilíbrio o que a gente sempre procura por aí?

E naquele momento do olho disperso, das reflexões sem futuro, quando você sabe que, no fundo, quer é mais, vai se lembrar de mim e vai pensar, com arrepen­dimento e angústia no coração: não é que ainda mexe comigo?

2 comentários:

  1. Foda. Amo esse conto. A música pra ele é detalhes? Arrasou. Super condizente. AMO! "mas se isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua..."

    Foda essa tal de lucía.

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