Acho que você tinha razão desde aquela primeira vez, mas mesmo assim a gente acaba precisando viver pra ter certeza mesmo. Ou pelo menos pra confirmar na prática as teorias cínicas de amor. A gente se vê, a gente se esbarra, a gente acaba se envolvendo um pouquinho. Estamos nessa época de merda, em que demonstrar sentimento é crime sem fiança, em que só para os amigos de mais de 20 anos a gente confessa fraqueza e dúvida, e olhe lá! Azar o seu se ainda faz o tipo romântico, que suspira e se lembra de um beijo gelado, que segue a tradição milenar de olhar para a lua e imaginar um rosto, se gosta de imaginar que sentir um cheiro alheio pode dar mais tesão que se masturbar on line com qualquer tipo de sexo virtual. O mundo está muito bobo e a gente pode se entupir de análise, maquiagem, livro e saltinho alto, que ainda se sente vazio por dentro, e estupidamente sozinho. Eu até achei que não ia cair no joguinho da sedução, que, do alto do meu metro e meio, podia ser maior que isso e me permitir conhecer você e seu charme provocativo, me desafiando inteira com esse seu tamanho de homem.
Mas é mais simples que tudo isso, não merece começar a me baratinar e se materializar nas minhas incontáveis histórias dramáticas. É, sou puxada para o drama, mas não precisa levar isso muito a sério. Gosto de chorar e amargar bem as pitangas, torcer a garrafa pra ver se pinga até o restinho da melancolia, mas consigo me divertir nesse meio do caminho. Eu gosto mesmo do caminho, e gosto até de me perceber tão bobinha caindo no seu papo. Você já tinha mesmo me avisado: às vezes a gente simplesmente não está afim, acha mesmo que pode encontrar alguém mais legal, mais envolvente, alguém melhor. Seco e simples assim, você disse naquela tarde em que pensei “esse eu ainda pego”. Te achei bonito e acreditei na sua lorotinha intelectual. Achei que ia te pegar também pelo argumento. Meu deus, como sou viciada em argumento.
E que se dane, apesar de toda a conversa feminista e filosófica, cá estamos, um homem e uma mulher, repetindo essa cena tosca de affair pós-moderno. Eu te encontro, eu te fodo bastante, eu te faço gozar, eu gozo, eu falo da vida, seguro sua mão pra dormir, lavo sua louça, peço pizza, vejo filme, te conto da minha infância e vou embora. E depois não queira me falar em palavra séria, porque fui sincero desde o início. É, foi sim. É, não vou falar mais nada não. Eu nem queria falar mesmo, eu tenho medo dessa minha vocação pra homem safado.
Não quero casar ainda não, seu moço, não sou tão tábua rasa quanto você agora me parece ser. Não precisa ficar todo machinho medroso correndo da minha voz. Mas ficou, e não tenho paciência para educar menino moleque não. Ás vezes eu chego a pensar que as relações podem existir mais de verdade, que um romance sempre cai bem, e que nem tudo é esse compra e venda desgraçado, eu te dou prazer, você me faz gozar, e até mais. Não sei se adiantou tanta revolução nos costumes pra mulher aprender a ser predadora também, pra gente aprender a escolher no mercado qual trepadinha pode ser mais gostosa. Entra tudo no pacote: conversinha teórica, carinho no ouvido, dormir de conchinha, dividir os fones do walkman. O roteiro romântico está lá, intacto. Mas isso tudo só vale com a regra de ouro: não pode se envolver.
Sei que o mundo anda assim. Não sei bem por que, mas desconfio que é mais triste desse jeito. O que se há de fazer? Sozinho a gente não muda nada mesmo. A gente pode aprender a jogar ou ficar toda vez se assustando em perceber que fizeram da vida um jogo. Acho que ainda prefiro o susto.
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