Numa noite seca e de seca, se conheceram. Trocaram olhares, palavras, impressões e telefones.
Tentaram encontrinhos durante três semanas seguidas, agendas teimosamente incompatíveis.
Lá pelas tantas - ela já mal lembrava - ele chamou:
- Tá sabendo do filme de hoje no festival?
- Opa, claro, imperdível. Tou indo pra lá.
- Ótimo. Te acho na multidão. Cerveja depois?
- Feito.
Na saída, rapidíssima troca de impressões sobre a obra-prima do genial... do estupendo...
- Ei, topa a cerveja ali em casa? É perto, umas, deixa ver, OITO quadras.
- Ah, ali do lado!
As noites já não eram secas.
- A gente tem que aproveitar quando chove pra se molhar, né? Depois, só ano que vem.
Ligeiríssima permuta de biografias. Ele tocava piano profissionalmente, escrevia, desenhava, militava.
Ela ouvia. E ele também nadava e corria e pedalava.
- E cê mora com quem?
- Tou num apê de uns amigos, meio temporário, há pouco separei do namorado...
- Saquei.
- E você, vive com a família?
- Não!
- Amigos?
- Nem.
- (...)
- É com a Patrícia.
A noite voltou a ficar seca.
- Ah, não, aí é foda.
- Cê vai ficar parada no meio da chuva mesmo?
- Ô, é sério, não tô a fim de confusão. Essa cidade é um ovo. Pô, que merda, menino!
Relampeava.
- A relação é aberta? Ela acha tranquilo?
- Ah, guria, ela era de boa, sempre foi.
- Entendo. Mas depois ela sacou que era desigual, né? Passou a se sentir idiota, percebeu que livre mesmo era só você?
- Sei lá. Acho que tem a ver com...
- Já sei: amadureceu!
- É, né? Pode ser. Dizem que quando a menina engravida, vira mulher.
Uma cigarra agonizou.
senhor, fazei com que essa estória não seja real, ou pelo menos que a cada minuto vá diminuindo a sua recorrência. Amém!
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