sábado, 26 de junho de 2010

Nós

Nós, que escrevemos nessa nova bodega virtual, somos de uma geração no meio do caminho. A gente chegou a ter adolescência, etapa da vida que parece já não existir mais. A gente só teve acesso a telefone celular, email e até som de cd depois dos 15 anos. Até lá, deu tempo pra festinha americana: menina leva salgado, menino refrigerante, dança da vassoura, caí no poço e conversas sem jeito com os rapazinhos através do telefone fixo mesmo, aquele de casa, que corre o risco de ser atendido pela mãe ou pai da criatura.

Hoje, estamos naquele meio do caminho entre os 20 e poucos e quase 30 meu deus! Nossas mães já trabalhavam antes da gente nascer, e pensar em mulher que fica em casa o dia inteiro é muito esforço de imaginação. Não sabemos ao certo se somos muito estranhas, ou muito normais, ou se fazemos mesmo parte de um vasto universo feminino que anda às voltas com os bons e velhos problemas do amor, aqueles que estão sempre na moda, que são o começo de qualquer conversa entre amigas que se prezem, que rende incontáveis terapias no boteco e ressacas homéricas.

A gente não tem bem certeza do que queremos. Na verdade, mudamos de ideia sobre o assunto com alguma frequência. Casinha e o lado direito da cama sempre quente? Lasanha requentada numa quinta à noite e jornais no domingo? Um bom moço que nos faça rir e gozar, que segure nossa mão no cinema e tenha vida própria só na medida em que não nos deixe surtadas e insones? Tem dias (e noites) que nem pensar. E sentimos orgulho e alívio de ter a chance de viver os sustos de cada dia por nós mesmas e fazemos questão de espalhar muitos livros no dito lado vazio da cama.

Mas cá estamos. Alimentamos a crença de que amor é tema público e não deve ser motivo de ressaca moral (só às vezes). Então colocamos nossos desencontros e encontros na forma de texto, porque de tudo dá pra tirar uma esperteza a mais pros outros micos que certamente virão. Porque não tem muito jeito, nesse negócio de amor nossa segurança de mulher que coordena reunião, faz supermercado, leva o carro pra revisão, ficha livros, traduz filme, viaja sozinha, até passa roupa, dá aula, cozinha e nada, vai toda por água abaixo. A gente fica meio boba, mesmo. Mas não tanto a ponto de ter vergonha, ou de desistir. Então cá estamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores